quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A arte da desculpa

-Mamai, canta-me aquela canção duma rã...
Às vezes o cérebro marcha veloz, outras, anda devagar. Procuro rãs na zona infantil do meu e quase instantaneamente evoco príncipes encantados, cucus que cantabalarana, Gustavo que é o nome de rã por excelência, a moça e o cântaro, aquela velha estória duma rapariga orgulhosa que negou água a uma mendiga ... e respondo finalmente, perguntando:
-Aquela de cucu cantabalarana?
-Não, não é essa! Era outra que cantavas quando chegávamos a esta página do livro.
O conto abre-se no meu colo e nos seus desenhos está engasgado o olhar do Nicolás. Náo há rã nenhuma na página, apenas um céu do que resvala chuva e umas crianças que brincam à roda.
-Nico, mas agora não lembro...
Desespera-se então e antes do pranto e da exigência, tento educar:
-Olha Nicolás, vá ver: no cérebro há como uns bichinhos miudinhos miudinhos que se chamam neuronas. As neuronas têm uns rabinhos que se juntam e então nós é que podemos lembrar e pensar as coisas. Se as neuronas não se juntarem ou andarem devagar... a mamai não pode lembrar. E as pessoas maiores, às vezes, temos as neuronas um bocadinho cansadas... sabes?
-E como são as neuronas?
Salvada! Procuro na rede ilustrações de neuronas, cérebros à vista, e esquecemos rãs e desesperos.

Hoje,dias depois, voltou da escola com rosto de façanha:
-Como foi, Nico? Que tal na escola?
-MariLuz castigou-me.
-Outra vez? Mas por quê foi?
-...
-Por quê foi, o quê fizeste ?
-... Não sei por quê foi mamai, não lembro... é que não "se me pegan" as neuronas!

2 comentários:

  1. Este Nico! Ya le estás enseñando unas cosas...mira que a no se le escapa una!

    ResponderExcluir
  2. Ya, es que le encanta saber.. pero está visto que el "conocimiento" es peligroso! ;)

    ResponderExcluir